oi… tem alguém aí?
ontem eu estava no carro com a minha filha e, do meu celular, Belchior começou a cantar o refrão da música “Sujeito de sorte”, naquela versão que foi para Amarelo, do Emicida. como de costume, cantei junto.
tenho sangrado demais
tenho chorado pra cachorro
ano passado eu morri
mas esse ano eu não morro
Catarina, logo de início, perguntou:
- como pode alguém morrer e depois no outro ano não morrer de novo?
pois é, ser mãe é complexo. mas tentei me virar:
- ah não, filha, ele não tá falando de morrer de verdade, é modo de dizer. ele quer dizer que o ano passado dele não foi bom, parece até que morreu. mas que esse ano não vai ser assim, vai ser melhor, ele não vai morrer.
- aaaaaahhhh….
e tenho comigo pensado
deus é brasileiro e anda do meu lado
e assim já não posso sofrer no ano passado
- então é tipo uma lenda, né? não aconteceu de verdade.
eu já falei, né? ser mãe exige da gente.
- é, mais ou menos isso. é um jeito dele de falar que o ano não foi bom.
permita que eu fale
não as minhas cicatrizes
elas são coadjuvantes
não, melhor, figurantes
que nem devia tá aqui
- mas o que não foi bom?
- ah, não sei… deve ter sido difícil, acho que aconteceu muita coisa…
- ahhhhh… tipo ter cinco festas no mesmo dia?
permita que eu fale
não as minhas cicatrizes
se isso é sobre vivência
me resumir a sobrevivência
é roubar o pouco de bom que vivi
- é, filha, acho que é tipo isso sim.
até a próxima,
Carol
E a gente aguenta? Haha eu adoro qualquer narrativa sobre perceções das crianças. Nos abrem os olhos pra tanta coisa que às vezes passam batida na rotina maluca da vida adulta <3
Haaaaaa ❤️❤️ tava precisando dessa sabedoria aí! Espero que a partir de agora, eu não tenha mais cinco festas no mesmo dia....