oi… tem alguém aí?
no início de 2008 eu levei um pé na bunda de um namorado por quem eu era apaixonada. na mesma época eu estava em um hiato entre um estágio e meu próximo trabalho e a faculdade estava de férias. o que me restava era passar o dia largada no sofá chorando. cheguei a fazer uma viagem com uma amiga (e amigos e amigas dela) para uma praia do litoral norte paulista. chorei a viagem inteira, uma companhia chatíssima, não sei como não me colocaram em um ônibus clandestino de volta pra casa.
eu faço aniversário no final de janeiro e estava nesse clima nebuloso desde o término, mas resolvi que no meu dia eu me daria de presente um passeio gostoso, sozinha mesmo - era dia de semana e a maioria das pessoas estava trabalhando. naquele dia estava chovendo, como acontece em todos os meus aniversários. mesmo assim, animei: peguei um ônibus, desci na Avenida Paulista, e fui ao cinema que fica no Shopping Center 3. eu já tinha ido ao cinema sozinha, nada demais. mas naquele momento me parecia um pouco ousado, por ser meu aniversário, mas, mais ainda, por eu estar numa fossa pós-término. de toda forma, eu me sentia confiante.
confiante, mas bem desligada - ou burra mesmo. eu escolhi assistir a um filme romeno chamado “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”. é bem possível que você não tenha ouvido falar sobre esse filme, porque a gente realmente não costuma ouvir falar de filmes romenos. mas, lembre-se, eu estava confiante, eu era uma estudante de Ciências Sociais de 22 anos, andando pela Avenida Paulista. era uma boa ideia ver um filme romeno sobre o qual eu não sabia quase nada.
pois pense na pior ideia que você pode ter na vida. pensou? bom, o filme, em linhas gerais, se passa na Romênia dos anos 80 e conta a história de duas estudantes, colegas de faculdade, que fazem um aborto ilegal no alojamento onde elas moram (uma delas faz o aborto, a outra ajuda, claro). o nome do filme, olha só, é o tempo de gestação que a jovem estava no dia do aborto. uma obra densa, com cores frias, imagens realistas despejadas para o espectador que se propôs a ver um filme com essa temática.
eu saí do cinema devastada, chorando e ainda mais na fossa do que quando cheguei. tinha alguma possibilidade de ter sido diferente? acho que ainda consegui comprar um sorvete, peguei o ônibus (na chuva) e fui pra casa, me largar no sofá e chorar mais um pouco pelos meus problemas e não mais por um aborto ilegal na Romênia dos anos 80.
eu fiquei pensando nessa história porque semana passada eu fiz aniversário e caí na besteira de fazer planos. todo mundo sabe que, depois de 2020, não se faz mais planos pra nada. mas eu, inocente como se ainda tivesse 22 anos, planejei um final de semana na praia com a família. tudo parecia promissor, a semana inteira passei mal com calor, pressão baixa de tanto sol. sairíamos na sexta cedinho, para curtir o dia 28 (meu dia) ao máximo. acordei umas sete da manhã e o cenário era de chuva fina, céu cinza. me senti derrotada, me larguei na cama: “não vamos mais”.
minha filha de (quase) três anos não conhecia a praia ainda e estava mais ansiosa que eu para a viagem, então acabamos indo. e foi uma delícia. mesmo com um tempo mais propício pra ver filme romeno do que ir para a praia. pulamos umas ondinhas, brincamos na areia, almoçamos em um lugar gostoso. tomei caipirinha, comi uma sobremesa de coco com manga bem refrescante. inventei meu verão de aniversário.
o que o meu aniversário de 22 anos trouxe de bom é que, de lá pra cá, nesses últimos 14 anos, nenhum outro foi tão ruim. mesmo que os planos sejam frustrados ou algo aconteça, é tão difícil superar o dia 28 de janeiro de 2008, que eu encaro todos os outros 28 de janeiro como a festa que são.
Ahhhh que coisa mais gostosa de se ler...poxa, das coincidências da vida essa foi uma das melhores, também faço dia 28 de janeiro, meu dia ou nosso dia...hahahha. Adorei saber que tem mais uma aquariana aí desse lado. <3 Adorei o texto e compartilho dos mesmos dias 28, talvez alguns piores, outros melhores....mas vamos levando <3 Obrigada, Carol
Feliz 28 de janeiro, com alguns dias de atraso! :) Por aqui, dia 16 de janeiro foi organizando mudança, com sintomas de covid, sem direito a celebrações - mas ó, não foi de longe meu pior aniversário. Rs...