oi… tem alguém aí?
desde que terminei de reler “a insustentável leveza do ser”, tem um trecho que não sai da minha cabeça e que, pra mim, quase explica o livro:
“missão, Tereza, é uma palavra idiota. eu não tenho missão. ninguém tem missão. e é um enorme alívio perceber que somos livres, que não temos missão.”
essa fala é do Tomas, um dos protagonistas, já lá para o final da história. ele era um cirurgião conceituado que, por questões políticas, acaba tendo que largar a carreira médica. nos últimos anos de sua vida, passa por profissões pouco valorizadas socialmente, como limpador de janelas e vitrines e, algum tempo depois, camponês.
as frases sobre missão aparecem em um diálogo no qual Tereza, sua esposa, tenta quase fazê-lo confessar de que está triste vivendo no interior, o que Tomas nega. ela tenta convencê-lo dizendo que operar era sua missão. ao que ele responde com o trecho citado acima.
apesar de eu passar o livro todo sem gostar de Tomas - hoje em dia ele seria chamado pelas redes sociais de boy lixo ou homem tóxico -, nessa fala ele me ganha por alguns momentos. ele vira quase um anti herói dos atuais “coaches de vida”.
viver é uma experiência tão louca e intensa, tão inexplicável e sem razão, que buscamos o tempo inteiro algum sentido para ela, seja na religião, no trabalho, na nossa atuação política e social, na maternidade/paternidade, nos nossos hobbies.
talvez a gente não tenha mesmo uma missão na vida. ou, talvez, tenhamos várias, e isso depende da fase em que estamos - quase como um videogame mesmo - ou dos papéis sociais que exercemos.
é óbvio que eu não pretendo trazer uma resposta definitiva pra essas questões, mas uma coisa tem ficado cada vez mais certa para mim. meu trabalho, ou as profissões que vou exercendo, não são e não serão minha missão ao longo da minha existência no planeta Terra. mesmo eu conseguindo trabalhar com algo que eu gosto, com temas que eu sinto que tem relevância social, que trazem algum impacto positivo.
MEU TRABALHO NÃO É MINHA MISSÃO, ELE É MINHA VENDA DE FORÇA DE TRABALHO PARA QUE EU TENHA RECURSOS PARA VIVER MINHA VIDA.
(repetiu comigo?)
essa conversa me lembra um ponto do filme “azul é a cor mais quente” que é pouco discutida (claro, todo mundo só fala da cena de sexo), mas que me marcou bastante quando eu assisti. Emma é artista, seu ciclo de amigos é formado por artistas e intelectuais. quando ela começa a namorar Adèle, ela dá indícios de não valorizar a profissão da namorada, que é professora de educação infantil. parece uma ocupação menor, até uma possibilidade transitória, até Adèle encontrar sua “profissão de verdade”.
(eu, como mãe de uma menina de três anos que frequenta a escola, posso afirmar que se tem uma profissão que merece reconhecimento e é de verdade, é ser professora de crianças pequenas. elas merecem tudo. prôs, querem o mundo? eu lhes dou.)
enquanto sociedade (capitalista), estamos prontas para ver o trabalho como trabalho? para lidarmos filosoficamente com a ideia de que isso tudo aqui que estamos vivendo não tem um sentido? que não temos ou não precisamos ter uma missão?
ou essa é, de fato, uma leveza insustentável para o ser?
até a próxima,
Carol
final arrebatador o dessa sua news, amei! <3
amei, Carol!