oi… tem alguém aí?
eu tenho algumas saudades da época em que eu era frequentadora assídua de uma igreja batista pequena aqui de São Paulo: os feriados em acampamentos cheios de atividades, o senso de comunidade e pertencimento e - talvez a maior delas - a fé.
entre os 9 e os 25 anos eu tive muita fé. acreditava em um deus onipresente, onipotente e onisciente (essa última característica me assustava um tanto). acreditava que ele tinha escrito um livro sagrado por meio de homens (raras mulheres) escolhidos metodicamente por ele. e que se eu pedisse algo acreditando muito, muito mesmo, aquilo seria atendido.
quando eu tinha algum problema, angústia ou questão por vir, era simples: eu fechava meus olhos, direcionava meus pensamentos para esse deus e pedia o que eu queria. às vezes chegava a verbalizar em voz alta, mesmo quando estava sozinha.
nesses mais de dez anos em que deixei de acreditar nesse deus, eu tive muitos momentos nos quais quis recorrer à ferramenta da oração para me sentir melhor, ter alguma certeza de que as coisas dariam certo. foi assim quando engravidei da Catarina, meses após passar por uma perda gestacional. quis muito poder deitar a cabeça no travesseiro e pedir que aquele amontoado de células na minha barriga sobrevivesse ao ponto de virar um afeto e, depois de alguns meses, estivesse nos meus braços.
foi assim também durante as eleições de 2018. se ainda tivesse a fé que eu tinha antes, teria pedido muito, inclusive de joelhos, se fosse preciso, para que não entregassemos o país nas mãos de alguém que usa dessa mesma fé para manipular e destruir o que vê pela frente.
em nenhum desses momentos eu tive fé. pelo menos não em um deus todo poderoso.
a fé que hoje eu vejo que consigo ter - e aí vem o clichê, me desculpe desde já - é nas pessoas. é no que o ser humano é capaz de criar, inventar, superar, imaginar.
somos capazes de muitos milagres, todos os dias.
hoje estava olhando os produtos na geladeira do mercado, um funcionário perguntou o que eu estava procurando e o diálogo seguiu:
- “manteiga, mas uma mais barata que essas. não tem, né? tá tudo tão caro!”
- “é, tá mesmo, tudo caro… será que agora vai melhorar?”
e me olhou com o olhar de quem procura uma companheira de fé, alguém que pudesse garantir - assim como minhas orações faziam - que as coisas agora vão melhorar. eu fiz o papel que me cabia ali:
- “ah vão sim… não tem como… as coisas vão melhorar!”
e quase pude ouvir Gil tocando no alto falante do mercado: “andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar…”
até a próxima,
Carol
Um pitaco aqui de quem tem mergulhado na Bíblia por conta do meu projeto de newsletter… será que isso que a gente geralmente entende como perda de fé não é na verdade um amadurecimento da fé? Será que esse Deus-barbudo-no-céu não é a versão infantil, e a gente tem que se graduar pra entender uma fé maior, mais abrangente? Que passa pela humanidade do outro, pelo poder que está em nós e nas pessoas? Adorei a edição. Bjos
Traduziu exatamente meus sentimentos. Na falta de um deus, vamos ter fé nas pessoas e nas instituições.