oi… tem alguém aí?
eu nunca me senti muito confortável ao preencher o campo “profissão” em fichas de cadastro. eu já trabalhei com pesquisa, comunicação, cultura e, há uns bons anos, atuo na área da educação. já tive funções variadas e nunca sei se coloco um cargo (coordenadora de produção de conteúdo) ou o que me move (educadora). algumas vezes, acabo indo pelo caminho fácil do que diz o meu diploma: cientista social.
o problema é que, mesmo o papel confirmando esse meu título, me sinto uma impostora ao declarar as ciências sociais como profissão. me parece que pode fazer isso a pessoa que está na tv analisando pesquisas eleitorais ou explicando a relação entre políticas de distribuição de renda e a melhora na saúde das crianças. quem está na frente do computador tabulando respostas sobre consumo e transformando tudo em informação para institutos e empresas. para ser ainda mais conservadora, quem está em uma universidade, escrevendo artigos sobre teóricos incompreensíveis até mesmo para o mais erudito dos acadêmicos.
apesar disso tudo, vou ter que te dizer que nesse fim de semana que passou, fiz uma viagem que despertou a cientista social que ainda mora em mim. por questões familiares, visitei a cidade mais bolsonarista do Brasil.
(pausa dramática para que você imagine o que é passar um fim de semana na cidade mais bolsonarista do país e ter o autocontrole de não entrar em conversas sobre política.)
ao descobrir este contexto, eu comecei a ler reportagens sobre a cidade, a prestar atenção nas conversas, nas bandeiras do Brasil por toda parte. minha cabeça ligou uma engrenagem que detectava cada detalhe. quando eu estava na graduação, lembro de um dia em que a minha mãe falou que tinha ficado muito chato assistir televisão comigo, porque eu queria ficar “analisando sociologicamente” tudo que passava. uma estudante de Marx e Weber de 19 anos pode ser bem chata mesmo, não posso negar. e, agora, eu me senti voltando nesta época.
entre sexta e domingo, elaborei alguns projetos de mestrado na minha cabeça. todos envolviam passar de seis meses a um ano morando naquela região, conversando com a população, vivendo o plantio e a colheita da uva, participando dos almoços na paróquia. as anotações virariam uma dissertação, que daria origem a um livro e a diversas entrevistas.
como você pode imaginar, eu voltei para São Paulo - satisfeita em viver com a minha “bolha” diversa (ou nem tanto assim) - e abandonei os projetos de me tornar mestre em bolsonarismo. mas foi bom perceber que meu lado cientista social (sendo profissão ou não) permanece vivo e sempre pronto para dar uma acordadinha em contextos sociais e políticos instigantes.
até a próxima,
Carol
Me identifiquei muito com a parte sobre ser chato assistir tv ao nosso lado 😂 vivo criticando a edição das reportagens
Só posso te desejar força! Rs! Maravilhosa!