desculpa, Carla Perez, eles não sabem o que dizem

oi… tem alguém aí?

uma das figuras brasileiras mais icônicas dos anos 90 do século passado - período no qual passei a maior parte da minha infância - foi a Carla Perez. para os tradicionalistas (como eu), ela é a loira do Tchan original, real oficial. Sheila Melo que me perdoe, mas Carlinha sempre teve muito mais carisma e representou essa época do Brasil como ninguém. 

conta uma lenda que, em uma entrevista famosa ao Jô Soares, ao ser questionada sobre seu prato preferido, Carla Perez teria respondido: Duralex, porque não quebra. na sequência, ao perguntar qual era o hobby predileto de Carla, Jô recebeu a resposta: um preto, de bolinhas brancas. 

eu tô chamando essa história de lenda porque, ao fazer uma pesquisa rápida na Internet para encontrar o vídeo desse momento, descobri que ele pode nunca ter existido. está no imaginário brasileiro (tal qual o boto cor-de-rosa), mas não há registros de que tenha acontecido mesmo. 

sendo verdade ou não que Carla Perez tenha dado essas respostas, quero pedir licença para acreditar ser verdade e ressaltar que Carla Perez foi injustiçada com essa história. na época, era comum rir de piadas sobre “loiras burras” (quem ainda ri, acha que o mundo ficou chato e reclama do “politicamente correto”) e a gente tomou essas respostas como burrice mesmo. no entanto, quase trinta anos depois, venho pedir desculpas à Carla Perez. ela estava certa o tempo todo.

quantos adultos hoje, no segundo semestre de 2022, teriam respostas melhores que estas? com o preço das coisas como estão, eu quero um prato que dure, sim. esse é o meu preferido. o que vai ter dentro? ah, pode ser arroz com feijão, pode ser macarrão com um bom molho de tomates. o importante é que seja qualquer comida boa e que eu não tenha que comprar mais louças. 

o que dizer do hobby? eu conheço poucas pessoas com mais de trinta anos que, no auge do capitalismo tardio feat. domínio das redes sociais, conseguem manter um hobby. olha o que o dicionário diz sobre o termo: atividade exercida exclusivamente como forma de lazer, de distração; passatempo. 

eu cozinho bem? bom, vou fazer um canal de YouTube com vídeos de receitas. eu gosto de fazer crochê? por que não vender um curso online ensinando a fazer blusinhas? eu sei tocar umas músicas no violão? é uma grande ideia criar um perfil no Instagram e um no Tik Tok e acumular muitos seguidores, likes, compartilhamentos. 

não, não, não. certa estava a Carla Perez e não só porque sabia que pau que nasce torto nunca se endireita. mas, principalmente, porque sabia que hobby bom mesmo é aquele bonito, confortável, que a gente coloca no final de um dia de trabalho, após um banho quentinho, que nos abraça no nosso impulso de não fazer mais nada considerado produtivo.

até a próxima,

Carol