oi… tem alguém aí?
dia desses saí para jantar com duas amigas que estão numa fase profissional muito parecida - fase desafiadora, diga-se de passagem. enquanto líamos o cardápio, naquele momento do jantar no qual os assuntos ainda estão meio embaralhados, mas já entrando no tema principal, uma delas falou:
- se a gente marcar mais um dia para falar de trabalho, a Carol não vai mais querer saber da gente.
a segunda respondeu:
- ah, a Carol gosta de fofoca!
ao que eu, prontamente complementei:
- gosto de fofoca, mas gosto mesmo é da narrativa, então podem começar a falar do trabalho, mas com todos os detalhes possíveis.
a amiga que pontuou meu gosto pela fofoca me conhece há 15 anos e estava correta na afirmação. eu gosto sim de fofoca. só de ouvir a frase “preciso te contar uma coisa!” ou “você não sabe o que aconteceu…” eu já sinto um arrepio de prazer percorrer minha espinha.
mas fiz questão de pontuar que, para além da fofoca, gosto é da narrativa.
me apetece ouvir o que aconteceu com outras pessoas, especialmente quando os causos são narrados em primeira pessoa. é aí que os detalhes vêm em maior número e mais saborosos.
se, na mesa de um café, a amiga narra uma situação na qual foi preterida em uma promoção no trabalho, eu pergunto o que a chefe dela falou, quais foram as reações da equipe, o que ela respondeu de volta.
eu não quero deixar que a história se perca. não a história tal qual aconteceu (impossível de ser apreendida), a história tal qual foi processada pela mente da minha amiga, fazendo associações que permitem resgatar na memória os diálogos (mais ou menos) como aconteceram, uma mistura de emoções, pré-conceitos, vieses meus e dela.
é uma autoficção sendo elaborada bem na minha frente, arte sendo feita em tempo real.
por isso fico especialmente aborrecida quando alguém posta nas redes sociais um vídeo ou texto no qual fala algo como “aconteceu uma coisa muito pesada comigo esse ano” ou “ sofri uma grande traição nos últimos meses, de alguém que jamais imaginei me trair”, e a história para por aí. ou, pior, é seguida apenas das supostas aprendizagens que a pessoa tirou disso. o que eu quero saber é: quem? como? por quê? de que forma você reagiu?
eu não me interesso por fofoca pela metade, muito menos por fofoca coach. eu quero fofoca por inteiro, fofoca literária - de preferência, no melhor estilo Karl Ove Knausgård.
se te parece que estou romantizando a fofoca só para me defender da pecha de ser fofoqueira, pois bem, que seja. se Silvia Federici já mostrou que a fofoca tem a ver com história de silenciamento da resistência das mulheres contra o patriarcado e o capitalismo, por que eu não posso me orgulhar de ser uma ativista da fofoca?
até a próxima,
Carol
fofoqueiras deste Brasil, UNI-VOS! adoro uma fofoca e concordo totalmente com a federici (inclusive bell hooks fala um pouco dessa questão fofoca-mulheres).
Ah não, fofoca coach é o fim da picada! Haha a gente gosta do storytelling - aí fica chique, o rebranding da fofoca!