oi… tem alguém aí?
tem um fenômeno que eu acho particularmente interessante nas dinâmicas que estamos estabelecendo nas e com as redes sociais, o fenômeno “fui notada”. você já deve ter visto alguém que você acompanha falar algo como “não acredito, fui notada por tal pessoa!”. talvez você mesma já tenha falado isso em algum momento.
o desejo de ser notada ou, em outras palavras, de outras pessoas repararem o que estamos fazendo ou quem somos, não nasceu com as redes sociais, claro. quero ser notada até pela minha terapeuta. no fundo, quero que a pessoa que está ali sendo paga para ouvir minhas lamentações me ache especial, engraçada, esperta, diferente das outras que ela atende. e não sou só eu. a Lori Gottlieb fala bastante disso no ótimo livro Talvez você deva conversar com alguém.
mas as redes sociais trazem elementos novos, como o like, o seguir, o compartilhar. ser seguida, compartilhada ou receber um like de alguém famosa ou que eu admiro, gera o sentimento pós-moderno contemporâneo geração millenium “fui notada”.
o que sentimos é quase uma recíproca da admiração que temos pela pessoa, mas uma recíproca efêmera, porque pode durar exatamente o tempo de um like. a pessoa acha interessante algo que postamos, deixa um coração e segue em frente. para nós - já que somos os únicos protagonistas das nossas vidas - isso basta para nos sentirmos notadas.
o que mais me intriga, de fato, nesse fenômeno, é o sentimento bom que vem quando as pessoas são notadas por uma marca. é quando acontece o famoso “recebidinho”. fui notada pela marca X ou Y é o mesmo que dizer: sou alguém. Silvia Plath diria “I am I am Iam”.
uma marca, segundo o Sebrae, “é a identidade visual da empresa, ou seja, a forma como ela é reconhecida no mercado”. então a gente tá falando de ser notada por uma empresa com CNPJ e finalidade de ter lucro e que se apresenta a nós por meio de uma marca, ou seja, uma personalidade bem planejadinha para conquistar um ou mais públicos que se identificam com ela. pra quem é dos signos: a marca é tipo o ascendente da empresa, né?
tenho me perguntado - sem ainda ter respostas, já adianto - por que queremos ser notadas por marcas. e digo isso na primeira pessoa do plural (nós) porque acredito que, mesmo quem não tem como profissão a tal influência, já desejou ser desejada por uma marca que admira. pode ser uma marca de tênis, pode ser uma editora de livros, pode ser uma pizzaria famosa. sei lá o que mexe com seu coração capitalista, mas o meu palpita pelos três exemplos que eu dei.
quero ser notada porque é bom receber itens de graça? sem dúvidas. mas tão bom ter o ego massageado ao achar que temos alguma relevância ao ponto de uma corporação (a entidade máxima do capitalismo) notar que eu existo. I AM I AM I AM.
essa é provavelmente minha carta mais confusa até hoje. é que não tive muito tempo de elaborar o tema aqui internamente e já quis expulsá-lo de mim. agora ele tá com você. se quiser, pode voltá-lo pra mim.
até a próxima,
Carol
Carol, me identifico muito com suas news! ja deu pra notar hahaha teve um tempo q eu comentei exatamente sobre isso nos stories e estava com esse mesmo questionamento com relação a essa expressão e desejo. parte porque eu mesma ja entrei nesse pensamento de desejar ser notada por editoras, quando eu tentava parcerias. e ai eu comecei a pensar que louco como a gente aceita muito fácil essa pirâmide social de quem é superior a quem na internet, pq quando as pessoas comemoram isso é sempre sobre alguém q tem 'mais' de alguma coisa, na verdade mais seguidores, ou mais reconhecido ou famoso, ng vai se sentir lisonjeada quando um amigo próximo e anônimo comenta na sua foto ou se for alguém com menos seguidores ou que vc ache menos relevante importante que vc. Todos esses termos das redes de 'ser um perfil grande', crescer, etc me incomodam muito ao mesmo tempo a gente começa a usar o negócio e absorver todo o vocabulário e mentalidade como algo natural. nas últimas sessões de terapia eu voltei a falar sobre redes sociais, e as vezes me sinto meio idiota de bater tanto nesse martelo haha mas eu poderia falar disso por horas rs
Tão real isso que você escreveu! Adorei a edição!