oi… tem alguém aí?
um dia desses eu peguei alguns cadernos meus para reler o que escrevi. nesses cadernos tem de tudo: escritas pessoais; pequenas histórias inventadas; anotações de cursos; citações e trechos de livros; listas de tarefas; objetivos e sonhos. de tempos em tempos gosto de ler o que eu mesma escrevi porque sempre descubro alguma coisa nova, algo escondido que não havia chamado a minha atenção ainda. dessa última vez, não foi diferente.
em um caderno com a capa ilustrada em preto e branco - entre registros de uma palestra sobre futurologia e uma lista de mercado - estavam as anotações que fiz durante a conversa com a astróloga que fez meu mapa astral em 2018. cabe aqui contar que, até 2017, eu achava astrologia uma besteira. aí comecei a ouvir e ler mais sobre o assunto e comecei a me interessar. algo nos astros e planetas fez sentido para mim e, em um momento em que estava querendo descobrir mais sobre mim mesma, essa foi uma das ferramentas que eu usei.
pois bem, voltemos ao caderno. escrita em caneta azul, no alto da página, encontrei a frase: em algum momento eu vou largar tudo para escrever.
não contente em ser uma frase já nascida impactante, eu ainda tinha adicionado um asterisco no início dela - a única frase de toda a página com este símbolo de destaque. o que significa que, no momento em que coloquei essa frase ali, ela já tinha sua importância. pelo que entendi, pode ter a ver com o signo de câncer na minha casa 10, que fala do nosso propósito de vida, da forma como queremos ser reconhecidos.
ao ler aquilo, fiquei imaginando o que eu entendi, naquela época, que seria “largar tudo para escrever”. devo ter pensando que a astróloga previu, a partir do posicionamento das estrelas, que eu um dia deixaria casa, marido (ainda não tinha filha), cachorros, emprego, amigos, cidade… tudo! e iria viver - tal como Hilda Hilst - isolada em um sítio, escrevendo romances, poemas, contos, me relacionando apenas com pessoas ligadas à literatura e aos livros.
tá, talvez eu não tenha pensado exatamente nesse cenário, mas a expressão “largar tudo” me parece ter um tom extremo e definitivo. você não acha?
no entanto, ao pensar na minha vida atual - quatro anos depois de ter escrito essa frase - percebi que o que eu faço todos os dias, basicamente, é escrever. eu não escrevo o próximo livro a receber um prêmio jabuti, muito menos pretendo ser laureada nobel de literatura. mas ganho dinheiro escrevendo materiais pedagógicos, roteiros de cursos, planos de aula. por hobby, escrevo pequenos contos, meus diários, essa newsletter.
isso tudo é escrita. e eu não precisei largar TUDO. mas precisei sim, largar algumas coisas. no final do ano passado pedi demissão de um emprego no qual eu tinha o cargo de gerente. deixei, assim, uma carreira mais corporativa, que estava cultivando há alguns anos. agora, escrevo. deixo de fazer outras coisas, por alguns minutos ou horas, para me dedicar a imaginar e registrar histórias relacionadas ao meu cotidiano. penso que isso tudo é largar um pouquinho alguma coisa.
se tudo der certo, eu ainda tenho muitos anos pela frente para viver muitas vidas nesta mesma, então não descarto a possibilidade da astróloga ter previsto que eu, uma senhorinha bem elegante, um dia largue minha casa no meio do caos paulistano para escrever no meio do mato. mas, por enquanto, me contento em perceber que, de uma forma mais suave, cumpri a profecia: larguei (e largo) um pouquinho de tudo, a cada dia, só para escrever.
até a próxima,
Carol
Que delícia de texto!
Carol, tem sido tão gostoso esperar teus e-mails da newsletter! Meu abraço eletrônico hahaha! Cheiro!