oi… tem alguém aí?
eu sempre gostei de assistir reality shows. os meus preferidos são os que envolvem competições ligadas a profissões, como de melhor cozinheiro, melhor confeiteiro, melhor designer, melhor modelo. ok, só de escrever isso já percebo o quanto o tema renderia em uma sessão de terapia que pudesse me ajudar a analisar como os modos de vida e de produção capitalistas moldam nossos gostos e fazem a gente achar divertidos esses tipos de programa.
mas uma coisa que eu acho intrigante nesses programas é pensar que quem participa deles precisa ter uma belíssima autoconfiança, uma autoestima admirável. você pode até não achar que é realmente o melhor estilista do mundo, mas se você vai expor seus talentos e trabalho para tanta gente, no mínimo, você acredita que irá receber alguns elogios da Heidi Klum e do Tim Gunn. e isso não é pouco. você precisa ser bom.
em programas em que a competição nada tem a ver com seu ofício, a coisa fica ainda mais complexa e esse nível de autoconfiança tem que ser enorme mesmo. porque, veja bem: a pessoa está aceitando ficar trancada em uma casa com outras pessoas com quem ela nunca conviveu, com hábitos de higiene e posicionamentos políticos diversos, com uma produção quebrando a cabeça para que as tretas e os romances aconteçam. e, mesmo diante desse contexto, a pessoa pensa: tá aí, é um bom cenário para eu mostrar quem eu sou, para o Brasil inteiro ver minha personalidade.
eu não vou mentir para você, é claro que eu me pego de vez em quando me imaginando como uma participante desses programas. o que eu faria em tal situação? como eu reagiria em determinada briga? aguentaria mais de 30 minutos em uma prova de resistência? (resposta: não). é inevitável projetar que tipo de personagem gostaríamos de ser. eu ia querer ser a inteligente, mas humilde. não ia querer cagar regra pra ninguém, mas gostaria de ser vista como alguém que fala coisas interessantes, emite boas opiniões. e o que ia acontecer? eu acabaria sendo uma chata odiada pelas pessoas da casa e pelo público. já sairia na segunda semana (acho que tenho charme suficiente para não sair na primeira).
no livro Falso Espelho, tem um ensaio em que a autora, Jia Tolentino, conta a sua experiência em um reality show na época da adolescência. ela escreve:
“os reality shows encenam as inúmeras ilusões pessoais dos emocionalmente imaturos: o sonho de que você está sendo observado de perto, avaliado e categorizado; o sonho de que a sua própria vida daria um filme, e de que você merece sua própria montagem cuidadosa com trilha sonora enquanto está andando pela rua.”
eu não concordo com essa categorização de pessoas “emocionalmente imaturas”. acho que somos todos, né? no fim, a vida é isso, a gente vai aprendendo a lidar com as emoções. chegamos, em algum momento, em uma suposta maturidade? acho que quando ela cita os “emocionalmente imaturos” que acham que a vida merecia um filme, ela tá falando de todos nós, em alguma medida.
ao retomar a experiência para escrever o ensaio, ela conversou com uma das produtoras do programa, que falou:
“a maioria das pessoas quer ser famosa. todo mundo acha que pode ser um Kardashian melhor do que os próprios Kardashian. você vê agora, com esses aplicativos. todo mundo gosta de ter um público. todo mundo acha que merece uma plateia.”
ela vai num ponto importante: eu tenho certeza de que poderia fazer melhor do que quem está lá. que a minha personalidade, minha forma de ver o mundo e viver a vida é muito mais interessante do que a de quem estou vendo na tv. ao escrever isso, dou a impressão de que tenho uma ótima autoconfiança. mas eu não tenho. se não, estaria lá também (ou pelo menos já teria me inscrito em um desses programas).
a minha autoconfiança é infinitamente menor do que a do homem hétero branco que se considera o pegador, tem zero carisma, não é divertido, não demonstrou (pelo menos na primeira semana) ter algum tipo de atrativo, seja ele estranho, engraçado, qualquer coisa. ele não tem nada que indique que possa ir longe, muito menos ganhar um milhão e meio. mas ele se inscreveu, ele está lá. é essa autoconfiança presente nos participantes que a gente não tem como negar - e pode até admirar.
até breve,
carol
Concordo com a "kk", nesse reality tu já ganhou e tbm em um dos melhores vídeos de indicações de leitura do YouTube . Tá sendo maravilhoso acompanhar vc por aqui tbm. Seu reality é o das palavras...rsrs
No reality de melhor news, você já ganhou.. tá aí sua confiança!!!