oi... tem alguém aí?
por esses dias passou pelo meu feed as fotos do aniversário de 1 ano da filha de um casal que eu conheço. a mesa do bolo estava repleta de docinhos, expostos em bandejas e boleiras, cada qual com seu tamanho, de forma que o conjunto apresentasse uma diversidade harmoniosa. tudo em cores em tom pastel, madeira e papel craft, passarinhos de papel e pequenas garrafas de vidro cheias de mini margaridas. pendendo junto com a toalha, bandeirinhas que formavam o nome da aniversariante. achei tudo lindo, muito bom gosto, deve ter dado um baita trabalho.
eu mesma não fugi do padrão: minha filha completou um ano bem na semana do carnaval de 2020 (sim, um mês antes do isolamento pandêmico), fizemos uma festa com churrasco, decoração colorida, com brilhos e fantasias.
no aniversário desse ano, também próximo ao carnaval, tivemos muito glitter e cor, mas ela já tem suas preferências opiniões: a festa foi de unicórnio. não me intimido: comprei logo um balão enorme de unicórnio para estampar a parede da sala de casa, além pratinhos, copinhos e bexigas nas cores do arco-íris. na mesa, só os sanduíches de metro mesmo, que saíram na hora do parabéns para dar lugar a um “naked cake”, brigadeiros, beijinhos, bichos-de-pé e surpresas de uva (cientificamente comprovado o melhor docinho de festa). não faltou a cama elástica e a piscina de bolinhas.
para o ano que vem, ela já declarou: quer duas festas. uma será com os amigos, pula-pula, escorregador e uma Hello Kitty enorme. a outra, será um churrasco com a família, temática: Corinthians. essa última parte já começou a causar climão na família, já que minha mãe é são paulina roxa. mas vamos lidar com isso somente em fevereiro.
ao pensar nessas festas caras e trabalhosas, me questiono quando permitimos que os aniversários de crianças deixassem de ser um bolinho no centro da mesa da cozinha da casa da família (cheio de crianças em volta cuspindo ao cantar parabéns), para tornarem-se grandes espetáculos.
a resposta fácil - que eu quase dei para mim mesma - seria culpar as redes sociais. afinal, o que, hoje em dia, não é culpa delas? ou, melhor: do uso que fazemos delas?
mas a teoria não se sustenta. porque lá em 2002, aos 16 anos, eu trabalhei por um tempo como monitora de buffet infantil. recebia a incrível quantia de 15 reais por 5 ou 6 horas de trabalho, enchendo bexiga, impedindo que crianças morressem nos brinquedos, servindo coxinha oleosa e refrigerante sem gás. e ali as festas já tinham se tornado uma atração com 625 bexigas, grandes totens de super-heróis (para meninos) ou de princesas (para meninas), toneladas de salgadinhos e docinhos.
a imagem abaixo, que encontrei em uma das caixas de fotos que tenho em casa, mostra a festa de 6 anos da minha irmã (eu sou a bebê de um ano no colo da avó, de vestidinho branco).
um bolo, uma vela do Snoopy, canecas de plástico, um monte de crianças da vizinhança, avós, avôs, tios, tias. na mesma mesa em que fazíamos nossas refeições todos os dias. lá também era lugar de festa. bastava que alguns de nós entrássemos em acordo de que naquele dia, naquele horário, aquela mesa, que nos servia todos os dias para as atividades mais banais, naquele dia, ela seria palco de festa. com sua toalha de sempre e as canecas de plástico, e um bolo e uma vela e gente que a gente ama em volta dela, desejando muitos anos à aniversariante, ao cantar “parabéns à você”. um verdadeiro espetáculo.
até a próxima,
Carol
Eu não sei exatamente o que levou a tudo isso (além do capital e toda uma estrutura de ter que ser e aparentar ser/ter). O fato é que essas festas simples possuem hoje um ar de "menos", num lugar que na minha singela opinião é mais, muito mais....
Pelas minhas contas, minha filha tem 11 meses a menos que a sua. Estando agora na posição de mãe, sinto que a gente projeta algumas faltas na criança - de afeto, bens materiais, oportunidades. Daí dá uma compensada, além do fator redes sociais que você já comentou. Parece que tudo isso reflete o tipo de pais que somos e ninguém quer "fazer feio". Nada de errado nisso, mas que festa infantil tá saindo pelo preço de um pequeno casamento, isso tá.