oi… tem alguém aí?
há um movimento de pessoas querendo desativar suas contas em redes sociais, muitas motivadas pelos recentes depoimentos, avisos e envolvimentos dos CEOs dessas “big techs” com a extrema direita mundial e, especialmente, alinhamento com o governo Trump e sua defesa à “liberdade de expressão” (leia-se, direito de ser fascista de forma aberta e sem vergonha).
eu me incluo neste grupo de pessoas, pois acabo de desativar minha conta no Instagram. ainda não tenho coragem de excluir de vez, e nem sei se tenho vontade mesmo, mas, como fiz outras vezes, deixei que o meu “eu” que só existe naquele espaço, entrasse em coma. por quanto tempo, aí é outra história.
mas eu não tomei essa decisão e atitude por conta dos homens brancos zilhonários que gostam de brincar de deuses do olímpio. porque, veja, minha (nossa) vida já está toda na mão de um punhado deles. não há saída no capitalismo, não há saída sem revolução, tomada dos meios de produção, luta armada, criação de inteligência artificial latino-americana que destrua um por um desses caras que nem deveriam existir. pois é, sou da paz, uma verdadeira pacifista. até a página dois - aquela na qual a gente dá uma voadora em cada nazista que aparecer na nossa frente.
(sim, eu adoro o filme Bastardos Inglórios. como você adivinhou?)
tá, mas talvez eu tenha divagado um pouco. o ponto aqui era a desativação da minha conta no Instagram. fiquei pensando no que me faz ficar e no que me faz querer sair de lá.
(eu já tinha escrito esse texto até este exato ponto. aí fui fazer outras coisas da vida - offline, vejam só - e quando voltei li a última edição da newsletter “Queria ser grande, mas desisti”, sempre excelente, que fala justamente sobre o tema e resolvi vir terminar esta carta aqui. é mesmo um assunto que paira pelo ar rarefeito da internet em 2025.)
na caixa de comentários da Babi eu coloquei uma indagação que tenho me feito constantemente e com ansiedade:
nossos gostos e desejos têm ficado cada vez mais pasteurizados? será que a gente quer o que quer porque tá vendo todo mundo querer (e fazer e ser e ter)?
se você usa constantemente alguma rede social, eu tenho certeza que você sabe do que eu tô falando.
você realmente quer um tênis Adidas rosa ou seu desejo vem das dezenas de mulheres usando looks incríveis com Adidas rosa no pé?
você realmente quer passar as próximas férias na Bahia ou esse se tornou seu sonho após passar os últimos 12 meses vendo fotos de todas as cidades, praias, acarajés e caipirinhas de cacau que existem no estado?
você realmente precisa ler esse livro ver essa série assistir esse filme ou você só não pode (de jeito nenhum em hipótese alguma) não comentar sobre eles?
olha só, pode ser um papo de aquariana (que eu sou), enquanto o sol está em Aquário (está), querendo ser diferentona, gostar do que ninguém gosta, descobrir o achadinho que ninguém descobriu. mas juro que não é. eu tô doida pra passear pelas ruas de Salvador usando um Gazelle Indoor rosa enquanto converso sobre o livro De quatro, da Miranda July (esse hype, pelo menos, eu li).
mas eu também quero poder me afastar de tanta foto, tanto vídeo de 30 segundos, tanto barulho que me diz o que eu tenho que saber, gostar, fazer e ser, e entender o que eu quero assistir, qual estética eu gosto em 2025, que tipos de conversas e quais assuntos mais me interessam agora.
como é que a gente volta a pautar a própria vida?
as redes sociais, hoje, mais do que nunca, são como relacionamentos, empregos e casas: precisamos ter bons motivos para sair e, mais ainda, para ficar.
até a próxima,
Carol
Obrigada pelo texto, Carol! To na mesma mas a reflexão por aqui é: “sair pra onde? Existe algo fora disso?”… no caso do Instagram, o mesmo homem branco e dono do WhatsApp e afins..
agora a questão do desejo tbm me lembrou uma frase da Vera Iaconelli no podcast com a Marcela Ceribeli de que não existe desejo fora do contexto social.. tudo está interligado.. complexo?
Saí temporariamente do instagram umas 5 vezes, meu último retorno não durou uma semana e decidi que era hora de desativar minha conta permanentemente. Foi e está sendo muito boa essa decisão "drástica" que tomei há quase 2 anos. Dentre os pontos positivos posso destacar que as "necessidades" de consumo que eu tinha foram reduzidas em uns 80%. Percebo também que meus pensamentos estão mais autônomos, livres, sem tanta influência do que eu consumia no Instagram. Claro que viver sem redes sociais (só com whats app) também têm suas dificuldades, mas nada que supere os benefícios de uma vida mais silenciosa. Boa pausa para você :)