oi… tem alguém aí?
esses dias eu passei em frente a uma casa na beira de uma rodovia, casa sem reboco, ainda em construção, mas já cheia de roupas de todas as idades penduradas no varal. me peguei pensando o quanto é bonito ver um varal cheio de roupas secando ao sol e balançando ao vento.
não é um gosto peculiar meu, pelo que percebi. na internet não é incomum vermos fotos de varais cheios de roupas em meio a outras fotos de viagem mais tipicamente turísticas (o mar, um monumento, ruas famosas). talvez, se encantar com uma cena tão trivial e cotidiana, que é um resultado direto de uma tarefa doméstica, seja uma forma boa de liberar dopamina.
dopamina é a palavra do momento entre neurocientistas e entusiastas dos estudos sobre o cérebro (acho que me incluo nesse grupo). ela é um neurotransmissor - o que significa que é uma espécie de mensageiro químico no nosso sistema nervoso -responsável por várias coisas, mas acabou ficando mais conhecido por ser o neurotransmissor que nos motiva a buscar o prazer. ele é liberado, justamente, quando fazemos algo que nos é prazeroso.
de maneira geral, nosso cérebro está sempre buscando recompensas, fazendo o menor esforço possível. por isso, estamos todos - em maior ou menor grau - entregues aos prazeres fáceis e rápidos dos milhares de streamings, na rolagem sem fim das redes sociais, da batata frita entregue na porta da nossa casa.
nossos corpinhos têm sido inundados de dopamina e o nosso cérebro acaba tendo que fazer um tipo de compensação bem bonitinha (mas ordinária), diminuindo muito a liberação de dopamina, nos deixando baixo astral, nos fazendo precisar cada vez mais daquilo que nos dá prazer, que nos transborda de dopamina, e… (o ciiiiiiclo sem fiimmmm)
diante desse cenário, as pessoas que andam escarafunchando o nosso cérebro pra entender cada vez mais tudo isso têm recomendado que a gente consiga sentir prazer e buscar motivação de outras formas e em outros lugares - que, talvez, estejamos deixando de ver como prazerosas. às vezes serão atividades difíceis e que não se parecem em nada com o que entendemos de prazer. mas ele está ali. talvez não com um letreiro brilhante piscando PRAZER
. mas, se apertarmos os olhinhos e olharmos lá no horizonte, o veremos (e sentiremos) ali.
quando lemos um livro bem complicado, anotamos, relemos, quase temos uma dor de cabeça e parece que, como em um desenho animado, vai sair fumacinha da cabeça. mas, depois de um tempo: uau, entendi esse conceito! é aquela emoção de ler um romance bem complexo e sentir algo especial (porque o conceito de entender, em literatura, pode ser um pouco relativo, não?). quem já tentou ler os livros da Virginia Woolf que envolvem fluxos de consciência, certamente sabe do que eu tô falando.
vale para aqueles exercícios físicos que a gente tenta escapar todos os dias, mas depois fica feliz de ver que tá subindo as escadas sem ficar ofegante. ou quando a gente consegue comer nossas frutinhas e o intestino (esse cara cruel que mora dentro de nós) resolve funcionar. ou quando a gente fica com um baita orgulho de fazer bem feito um trabalho ao parar de procrastinar. vale também para aquele banho gostoso que a gente toma depois de ter passado um tempo chato fazendo faxina no banheiro (dava para ter visto uns três episódios da série, pô).
e vale para o varal cheio de roupas limpas secando ao sol e mexendo com o vento.
eu acho que a cena nos chama a atenção (e causa algum tipo de deleite e satisfação) porque mostra, justamente, a beleza do que a gente faz no dia a dia para manter a vida acontecendo. e os varais que mais nos agradam não são quaisquer varais: eles estão expostos em público e as roupas dançam pelos ares das cidades. é a vida real cotidiana exposta e compartilhada, para além dos likes e vídeos de 20 segundos.
até a próxima,
Carol
ps.: tudo o que tem a ver com dopamina nesse texto eu aprendi leituras e vídeos que tenho visto, mas, principalmente, com as aulas da Roberta Ferec. recomendo bastante o perfil e os cursos dela. e o livro mais recomendado é o Nação Dopamina.
Adorei; me fez refletir aqui ❤️
Tenho refletido sobre isso (de forma nada científica) mas na vida prática, encontrando os prazeres no dia a dia e nisso muitas tarefas tem mudado seu tom 🤎