oi… tem alguém aí?
algo muito comum de acontecer e que eu acredito que todas as pessoas vivenciam em algum momento da vida é virar alguém monotemático.
2004 foi meu ano de cursinho. mais conhecido como o ano mais chato da minha vida. não digo que tenha sido o pior ano da minha vida - 2020 até poderia rir diante disso, não é mesmo? mas foi um ano bem chatinho. eu mesma estava bem chata. primeiro, porque sofria pelo fim de um namoro, chorando pelos cantos. segundo, porque meu grande tema era o vestibular. era ele que consumia minha existência (até a metade do ano, o vestibular competiu com a minha desilusão amorosa). eu precisava ler Guimarães Rosa, eu precisava conseguir calcular alguma coisa de Física, eu precisava descobrir o que, afinal de contas, era trigonometria. chata.
quando entrei na faculdade, virei a palestrinha da família, querendo destilar - do alto dos meus 19 anos - todo o meu vasto conhecimento de sociologia e ciências políticas (a antropologia nunca teve um lugar no meu coração, tadinha). ainda bem que isso foi mais no primeiro ano mesmo. depois a gente é engolido pelas demandas e o encantamento passa um pouco.
aí veio a maternidade. AAAHHH A MATERNIDADE. essa fase ardilosa. eu acredito que a maioria das mães - e eu me incluo aí - não quer passar seus dias falando sobre cocôs, privação de sono, mamadas, peitos rachados e como seus bebês são incríveis (tá bom, isso a gente quer sim). mas, ao vivenciar essa experiência, vemos que isso é praticamente impossível. ficamos monotemáticas. é verdade que umas mais, outras menos. mas temos um tema central de interesse. e ai de quem está a nossa volta.
corta para quatro anos depois, criança na escola. todo mês, no mínimo, uma festinha: Encanto, Homem-Aranha, Halloween e o que mais os pequenos cheios de opiniões desejarem. para felicidade dos adultos extrovertidos e horror dos introvertidos, é hora de socializar com as outras mães e pais. pessoas com quem você não tem intimidade, sobre quem você não sabe nada, além do fato de terem um filho ou filha da mesma idade que você. OU SEJA, temos aí um prato cheio para todos virarmos monotemáticos novamente.
não nego que, em certa medida, funciona bem. você descobre que é normal sim, a criança ainda ter um escapes de xixi durante a noite. percebe que a sua filha até que não tem um paladar tão restrito. consegue dicas de escola de natação, médicos infantis, como fazer seu filho de quatro anos tomar banho sem parecer que está sendo torturado.
chega uma hora, lá pela sétima festa, que você começa a ficar ousada. tenta falar sobre outros assuntos, começa a colocar um pé nessa imensa piscina que é o mundo dos adultos. mas o mundo dos adultos brasileiros em 2023 é complicado, nem as conversas mais triviais estão seguras, tudo pode descambar um pouco. é preciso muito tato e jogo de cintura.
eu sou da conversa. gosto de falar sobre diferentes assuntos. preciso debater assuntos como o aborto a erva.
mas eu me controlo. estou lá com uma missão: ficar a salvo de temas quentes. só preciso chegar até o final do “parabéns”, pegar meu “surpresa de uva” (aka o melhor docinho de festa) e ir para casa em paz.
acontece que, num dos últimos encontros, eu resolvi arriscar. o café da manhã já tinha descambado para a cerveja e falávamos sobre envelhecer. uma das mães comentou que a sogra precisa relaxar um pouco, já tinha 80 anos, adorava vinho, mas não tinha coragem de tomar nem uma tacinha. essa mãe é confeiteira, faz uns macarons deliciosos. imbuída de um espírito zombeteiro, falei: “você poderia fazer um macarronha pra ela!”.
(ops, pode falar disso?)
ela e a outra mãe na rodinha riram. UFA. sinto que destravei um portão.
mas sei que não posso baixar a guarda. seguirei tendo cautela, falando dos hábitos alimentares da minha filha, compartilhando dicas de criação de filhos. me manterei segura.
até surgir uma nova brecha no sistema.
até a próxima,
Carol
Só digo uma coisa: Queria encontrar você nas festinhas monotematicas pra gente subverter um tiquinho hahahha
Cadê a hashtagsomostodasmonotematicas ? 🫠 Adorei a manobra pra quebrar o gelo. Siga em frente e subverta o sistema! Rs...