oi… tem alguém aí?
acordei cedo e sem muita paciência. é quinta-feira, aquele dia que ainda não é sexta, mas a energia da semana já acabou. ou talvez eu esteja para menstruar.
o marido já tinha feito o café e estava prestes a colocar um pão francês na frigideira. tive que (quase) estragar a surpresa. só avisei que algo ia chegar, para ele esperar. oito em ponto chega uma cesta com pães, geleia, manteiga, requeijão, café moído na hora, um cookie e um molho de pimenta jalapeño - sei que este último não compõe bem o “conjunto café da manhã”, mas agrada o destinatário, fã de fortes pimentas.
feliz dez anos de casado. estou pronta para os próximos muitos.
trabalhos, entregas, contratos.
leio alguns capítulos do livro “educação de alma brasileira” que falam sobre o início, a formação do que hoje conhecemos como Brasil. a companhia de jesus catequizando deus e o diabo, as reformas pombalinas definindo a secularização e estatização da educação no país. e o mais interessante e bonito, sem dúvidas: o que podemos aprender da "pedagogia" dos povos originários.
“a produção e a transmissão dos conhecimentos acontecem o tempo todo e durante a vida inteira, por isso as brincadeiras infantis e as vivências são práticas fundamentais. as crianças e os jovens acompanham os adultos nas atividades cotidianas da tribo - como a agricultura, a pesca e o artesanato - e aprendem por meio de exemplos e de diversas referências, já que na aldeia todos são educadores e educandos.”
almoço e, ironicamente, brinco de escola - a brincadeira preferida da minha filha, que ontem declarou que quando crescer vai ser professora e médica. o pai, virginiano sensato, sugere: você pode ser professora de medicina. ao que ela responde: não, vou ser professora de criança de manhã, e médica de tarde.
ela completa quatro anos no mês que vem.
quando volto de deixá-la na escola, envio uma mensagem para uma colega de trabalho com quem ainda não havia falado em 2023. como dita a regra não escrita - mas mundialmente conhecida -, até o dia 31 de janeiro é de bom tom desejar um feliz ano novo. além de felicidades pessoais, neste ano, as trocas de feliz ano novo costumam vir também acompanhadas de pesares e esperanças em relação ao contexto nacional - da emocionante subida da rampa no dia 1 ao buraco que nos metemos no dia 8.
minha colega me responde desejando que tenhamos força para correr atrás dos nossos sonhos, para continuar buscando no trabalho essa realização de um mundo melhor.
e continua: a luta começou.
trabalhos, entregas, planilhas.
lavo a louça (sempre) acumulada ouvindo o episódio de um podcast sobre o término das spice girls.
decido caminhar no parque antes que a chuva chegue. coloco meus adidas esportivos, a pochete e prendo o cabelo no alto da cabeça em um coque desajeitado. por pouco não coloco um álbum das spice girls para tocar no fone. acabo optando pela playlist de músicas mais tocadas em 2022 no meu spotify.
voltas, suor e endorfina.
decido sentar um pouco no banco do parque antes de voltar para casa. expectativa: contemplação, atenção plena. realidade: abro meu e-mail e respondo algo relacionado ao trabalho.
estou prestes a responder mais um, quando me dou conta. fecho o aplicativo. nos meus ouvidos, começa a entrar a música “preciso me encontrar”, do Cartola.
preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
deixe-me ir
preciso andar
vou por aí a procurar
sorrir pra não chorar
quero assistir ao sol nascer
ver as águas dos rios correr
ouvir os pássaros cantar
eu quero nascer
quero viver
deixe-me ir
preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
se alguém por mim perguntar
diga que eu só vou voltar
depois que me encontrar
nos primeiros acordes, respiro fundo, me levanto e ando em direção à saída do parque. quando a música ainda está pela metade, passo em frente ao pixo de todo dia.
a luta começa, sem ter terminado nunca. e o sol, estrela tão distante de nós, continua a brilhar. não se esqueça de vê-lo nascer de vez em quando.
até a próxima,
Carol
Fechar esse texto com a música do Cartola foi a coisa mais linda e significativa <3 incrível, Carol!!
Lindo. Deixou uma energia boa aqui <3