oi… tem alguém aí?
acho que eu nunca fui muito boa com finais. pelo menos não em terminar relacionamentos, sejam eles amorosos ou de amizade. a corda costuma se esticar até não dar mais ou a outra pessoa solta enquanto eu ainda seguro uma pontinha do que resta.
profissionalmente, já sou bem diferente. mudo de trabalho sempre que entendo que onde estou não faz mais sentido estar. ou, no melhor dos casos, sempre que recebo uma proposta melhor. o protocolo é sempre meio parecido: peço uma conversa com o/a gestor/a da vez e aviso que estou saindo, cumpro o próximo mês para deixar tudo em ordem, faço happy hours presenciais ou virtuais, agradeço a todos e me despeço.
a forma como finalizamos algo é tão importante quanto o começo de tudo e o desenrolar das coisas. é por isso que eu sempre tenho dificuldade em escrever o final dos meus textos, sejam eles quais forem. pra começar, uma boa frase curta, que desperte quem está lendo, que dê indícios do que vai falar o texto, é sempre certeira. ou uma pergunta instigante, uma sentença irônica ou, ainda, polêmica. mas, para encerrar, é preciso estar certo do que você quer provocar, porque é a sensação que provavelmente ficará: risadas? esperança de que melhores dias virão? reflexões existenciais? retomar uma ideia que ficou perdida lá no início?
ontem terminei de assistir a série “This is us”. foram seis temporadas acompanhando a família Person, chorando com cada morte, cada acidente, cada separação, viajando entre passado, presente e futuro. não tem como dizer que não havia uma expectativa em relação ao final. não sabia o que esperar, mas aguardava aquele desfecho.
foi um final bonito e coerente com a série: morte, nascimento, fim de um ciclo e início de outro, família. mas - e esse mas é bem importante -, podia ter terminado um episódio antes. o último episódio está sobrando, é arrastado e tem alguns elementos cafonas. até o penúltimo episódio os roteiristas já tinham entregado o que a gente precisava. era só pegar um ou outro elemento do último e encaixar nos outros.
mas, roteiristas, e escritores no geral, parecem sofrer do mesmo mal que eu: não serem muito bons com finais.
quem acompanhou a série “Friends” sabe do que eu tô falando. a última temporada não tinha que ter existido. e ponto. não há argumentos contra isso que eu considere razoáveis. foi dramática, tirou o brilho dos personagens. eu sei que, neste caso, tem um elemento importante chamado dinheiro, afinal, cada ator e atriz do núcleo principal recebia um milhão de dólares por episódio nas últimas temporadas.
o que dizer de “The Office”, que deveria ter terminado assim que o personagem Michael Scott deixou a Dunder Mifflin?
para não ser acusada de só reclamar: “Breaking Bad” é um exemplo ótimo de como finalizar uma longa história, depois de muitos episódios e temporadas. foi o desfecho perfeito - ainda que tenham feito um filme com o “pós final” e, pasme: ele não é ruim.
alguns anos atrás, quando eu li o livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, fiquei tão encantada pelo final, que voltei umas três vezes para reler. não é só o que é narrado, mas, principalmente, como é narrado. a construção do final é de uma beleza, que você fecha o livro com um sorriso no rosto por ter vivido aquela experiência. (dica: eu li em inglês, o que dificultou muito o entendimento de algumas partes mais complicada do meio, mas fez toda a diferença no final.)
a pressão que eu sinto agora em terminar bem um texto que fala justamente sobre bons finais é tão grande, que prefiro me abster de usar minhas próprias palavras e deixar apenas as dicas de William Zinsser, no ótimo livro “Como escrever bem”:
“essa é a razão negativa para recordar a importância da última frase. não saber onde essa frase deve entrar pode destruir um texto que até antes de seu último momento vinha sendo construído com firmeza. a razão positiva para fechar bem um texto é que uma boa frase final - ou parágrafo final - é uma alegria por si só. ela eleva o leitor, e isso se prolonga uma vez terminada a leitura do texto.
o melhor final deveria pegar os leitores de surpresa e ao mesmo tempo parecer perfeito. eles não esperavam que o texto acabasse tão cedo ou tão abruptamente ou que o final dissesse o que disse. mas o reconhecem quando o veem.
(...) para o autor de não ficção, a única forma de transformar isso em uma regra é: quando você está pronto para parar, pare. se você já expôs todos os fatos e enfatizou aquilo que queria enfatizar, procure a saída mais próxima.”
até a próxima,
Carol
Concordo plenamente com seus pontos sobre os finais de This is Us (aquele penúltimo episódio maravilhoso no trem PRECISAVA ser o último, gente. como nenhum dos roteiristas levantou a mão pra isso? kkk) e The Office sem Michael Scott simplesmente não é The Office! A série perdeu todo o brilho...
Mas.... venho respeitosamente discordar sobre Friends. Sou uma forte amante da série e eu gostei sim da última temporada... acho que deu um desfecho bonito para os 10 anos dos amigos.
Por fim...
Eu também tenho uma IMENSA dificuldade de escrever os parágrafos / frases finais para meus textos. Parece que o início e o meio estão sempre lindos e aí vem uma conclusão feiosa pra estragar tudo.....
Super obrigado pelo texto, fez sentido por aqui a busca pela saída mais próxima depois de colocar em letras aquilo que viemos escrever. 💕