silêncio
oi… tem alguém aí?
a mensagem mais linda de ano novo que eu li em 2022 foi um bilhete que o artista/poeta Franscisco Mallmann recebeu e postou em seu perfil. nele, as duas frases que mais me tocaram foram “que seja sempre bonito e quando não for, faça tu mesmo a beleza” e “atravessamos a viração, pode ser bom fazer silêncio”. sobre a primeira, falo em uma futura newsletter. nessa, queria me demorar um pouco na segunda.
pode ser bom fazer silêncio.
essa frase me atravessa. eu sou uma pessoa falante, verborrágica, me comunico oralmente, por escrito, emoji, figurinha, em todas as redes sociais que eu estou e com qualquer pessoa que passa no meu caminho. eu fui a aluna que os professores precisam interromper a aula para pedir que eu parasse de conversar. sou a pessoa que, quando estou trabalhando em escritório, atrapalho os colegas de baia com minhas risadas e assuntos aleatórios.
acho que já deu pra entender quem eu sou, né?
esses dias fui ler uns cadernos meus, desde 2017 até agora daqueles em que escrevo livremente, pensamentos, desejos, angústias, sonhos… a cada poucas páginas surgia um escrito meu falando sobre a necessidade que eu estava de silêncio. do meu próprio silêncio. do quanto eu precisava me colocar menos, silenciar mais.
há tempos essa é uma demanda interna minha. tanto em reuniões de trabalho, quanto em mesas de bar com amigos. que dirá, nas redes sociais! já fui menos silenciosa: já tive canal no YouTube, já tive Fotolog, já tive Facebook… hoje em dia, mantenho esta newsletter e dois perfis no Instagram (um privado e um público, no qual falo sobre minhas leituras). mesmo com poucos espaços online, eu falo, falo, falo.
no último sábado eu fui no show dos Racionais MCs. pra quem leu minha última carta por aqui, pode imaginar o quanto eu fiquei emocionada em estar lá. mas, ao mesmo tempo, tinha uma filha de três anos em casa, com a vó, chorando e pedindo pela mãe. e eu, nessa distração, querendo notícias da filha, deixei meu celular cair na privada. sim, eu consegui este feito.
talvez o “normal” seria eu ficar preocupada, querer ir embora, tentar pegar o celular de alguém… o que eu fiz, na verdade, foi: avisei o marido que eu estava sem celular e a minha sogra teria que avisar para ele caso acontecesse algo em casa. e, depois disso, curti o show loucamente. sem fazer uma foto, um vídeo, um post. meu celular estava morto, eu estava viva demais - fiquei bêbada e falei coisas engraçadas ao longo do show, segundo relatos do marido.
eu tô meio em silêncio até agora, porque o celular ainda está na assistência técnica, tô usando um antigo que não deixa baixar a maioria dos aplicativos. o Instagram eu tenho acessado pelo computador, mas por lá não consigo postar nada, nem compartilhar. o WhatsApp está funcionando no celular, mas não no computador, o que dificulta escrever textos mais longos. uma espécie de silêncio e um pouco forçado, mas, ainda assim, um silêncio.
eu estava lendo um livro em um café essa semana, achei um ângulo lindo, tirei uma foto e… não tinha onde postar, o que fazer com aquela foto. a não ser, a coisa mais ousada que eu poderia fazer com uma foto bonita: guardá-la para mim, para recordar o momento sem dividi-lo com mais ninguém. não sabia se teria coragem, se seria demais pra mim. mas eu consegui: salvei aquela foto, não enviei para ninguém e prometi para mim mesma que, pelo menos essa foto, ninguém mais terá.
pode ser bom fazer silêncio.
até a próxima,
Carol