oi… tem alguém aí?
tem um tema que me interessa nas leituras e escritas: os finais de relacionamentos românticos. talvez seja porque já passei por vários e, na esmagadora maioria das vezes, fui eu que levei o pé na bunda.
mas meu interesse vem também porque as obras literárias, músicas e filmes mais interessantes e envolventes parecem falar sobre esses rompimentos. ler/assistir/ouvir sobre encontrar o amor pode até ser legal, provoca um quentinho no coração. mas bom mesmo é sofrer ouvindo uma música de partida do amor, lendo as sensações e sentimentos de uma pessoa que percebe ter sido abandonada, observando personagens tentando desesperadamente esquecer a pessoa amada após um término.
um episódio memorável da série Sex And The City é aquele em que a personagem Carrie está namorando com um cara que resolve terminar com ela por meio de um post it deixado no espelho da casa dela. isso mesmo: ele termina com ela escrevendo um bilhete no pedaço de papel mais corporativo que existe, aquele amarelinho que as pessoas usam para deixar lembretes para si mesmas sobre tarefas que não podem esquecer de fazer.
no post it ele só escreve: sinto muito, eu não consigo. não me odeie.
ela passa o episódio inteiro falando sobre isso com as amigas e tentando entender o que leva uma pessoa a terminar um relacionamento assim. não temos direito nem mesmo a uma conversa, olho no olho, algum tipo de explicação? ao assistir ao episódio, é impossível não ficar revoltada junto com ela, se colocar no lugar, imaginar o que faria, o que sentiria: indignação, frustração, revolta, ódio, tristeza.
mas, com o passar do tempo (assisti esse episódio há muitos anos, quando vi a série pela primeira vez), eu pensei muito sobre esse término e o que esperamos de alguém que termina um relacionamento romântico com a gente. queremos uma conversa longa, sofrida, cheia de explicações, de lembranças, de tentativas… por quê? podemos tentar nos enganar dizendo que é porque um relacionamento tão íntimo, de afeto, de amor, de paixão merece um final assim.
mas, agora, tendo a achar que o que queremos mesmo é tentar reverter a situação a qualquer custo. ao terminar com uma conversa, podemos usar todos os nossos argumentos, nossas melhores palavras. se for pessoalmente, temos nosso charme, a atração sexual que ainda pode existir, podemos persuadir, envolver. a outra pessoa pode ficar balançada, se esquivar, fingir tentar de novo ou realmente querer esperar mais um pouco.
um bilhete escrito em um papel quadrado amarelo com menos de dez palavras não permite nada disso. é categórico: acabou. eu não consigo. não adianta tentar. não me odeie. acabou. e, no fim, por mais cruel que seja um término em um post it, ele traz uma verdade árida e incontestável: mesmo que uma das partes queira continuar, um relacionamento só existe com as duas partes concordando.
não estou defendendo que as pessoas saiam por aí comprando pacotes de post it e deixando-os nos espelhos em cada término. mas, talvez (apenas talvez) eu ache que algumas das vezes em que terminaram relacionamentos comigo, eu ia preferir ter recebido um post it bem sucinto e sem chance de réplica, do que ter encarado uma longa conversa em que, invariavelmente, eu me humilhei implorando: “fique”. e eles nunca ficaram.
até a próxima,
Carol
eu tinha fumado mais da metade de um baseado ruim quando disse que ainda te amava. você, sóbria como eu nunca tinha visto, pediu para que eu deixasse de falar besteira. tentei te iludir, contando uma história absurda que envolvia seres mitológicos e fantasia medieval. você balançou a cabeça e disse chega. fiquei nas pontas dos pés, equilibrando meus pensamentos com um beijo demorado. te convenci a ficar na minha vida por mais cinco minutos.
(esse miniconto faz parte de uma coletânea de pequenos textos sobre rompimentos que pretendo publicar em uma edição bonitona um dia)
Sensacional!
Me sentindo tão contemplada que nem sei. Ps: como assim eu ainda não assinava a sua nl? 😱